Sentidos sobre o passado e disputas simbólicas no presente

Análise do termo "Regime Ditatorial Militar" no protótipo de tesauros para estudos da justiça de transição no Brasil

Autores

  • Pablo Gomes Instituto Federal do Maranhão (IFMA)
  • Maria Guiomar da Cunha Frota Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

Palavras-chave:

Organização Social do Conhecimento, Disputa simbólica, Memória, Verdade, Regime Ditatorial Militar

Resumo

A linguagem também é espaço para o desenho de projetos de poder que se efetivam em disputas simbólicas nos tesauros. Portanto, coloca-se como desafio à Ciência da Informação a constante observação e análise crítica sobre esses instrumentos. São destacadas as disputas sobre a memória e verdade relativas ao passado de graves violações de Direitos Humanos para compreensão de como termos/conceitos podem discursar sobre esses projetos de poder. O objetivo dessa pesquisa é apresentar os resultados da experimentação de construção de um tesauro (protótipo) com a operacionalização da garantia cultural para compreensão de como os sentidos do passado em torno do termo Regime Ditatorial Militar se tornam disputas simbólicas no presente. Metodologicamente é uma pesquisa qualitativa. Os procedimentos de coleta de dados levam em consideração a adoção de um esquema que possibilita ressaltar as características e especificidades da Justiça de Transição, o grupo focal para discussão terminológica e a pesquisa documental para comparação com o Tesauro da Justiça Miliar da União. Os procedimentos de análise dos dados incluem a análise de conteúdo sobre os dados coletados e análise do discurso sobre o termo Regime Militar. Os resultados apresentam como o termo Regime Militar é disputado em torno das discussões sobre a Justiça de Transição e a necessidade de mediação terminológica do termo no protótipo do tesauro. As considerações finais confirmam que há uma disputa simbólica sobre o termo Regime Militar e a importância da garantia cultural para identificação de elementos de difícil compreensão sobre a Justiça de Transição.

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Biografia do Autor

Pablo Gomes, Instituto Federal do Maranhão (IFMA)

Doutor e mestre em Ciência da Informação pela Universidade Federal de Minas Gerais. Especialista em Design Instrucional para EaD (FACEL) e Docência em Biblioteconomia (UnyLeya). Graduado em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Ceará - UFC (2016) e Administração de Empresas pela Faculdade JK - Anhanguera (2010). Professor do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico na área de Administração no Instituto Federal do Maranhão. Membro do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (NEABI) do IFMA - Campus Grajaú e do Grupo de Estudos e Pesquisa em Raça, Desigualdades e Políticas Públicas (GEPERPP), linha de pesquisa Organização Social do Conhecimento. Assessor Técnico no Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, Secretaria Nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+.

Maria Guiomar da Cunha Frota, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

Professora Titular da Universidade Federal de Minas Gerais / Escola de Ciência da Informação. Atualmente exerce o cargo de Diretoria da Universidade dos Direitos Humanos (UFMG/PROEX). Em termos de titulação é doutora em Sociologia pelo IUPERJ (2004), mestre em Sociologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (1995) e graduada em História pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (1988) . No Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação (PPGCI/UFMG) é filiada à linha de pesquisa Memória social, patrimônio e produção do conhecimento. Desenvolve trabalhos de pesquisa nos seguintes temas: Informação e Direitos humanos; Memória da repressão e da resistência nos países do Cone Sul. No campo da extensão coordena os Projetos Rádio Janela e Voz e Voto.

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Publicado

2025-09-21

Como Citar

Gomes, P., & da Cunha Frota, M. G. (2025). Sentidos sobre o passado e disputas simbólicas no presente: Análise do termo "Regime Ditatorial Militar" no protótipo de tesauros para estudos da justiça de transição no Brasil. Tendências Da Pesquisa Brasileira Em Ciência Da Informação, 18(1). Recuperado de https://revistas.ancib.org/tpbci/article/view/767

Edição

Seção

Premiados do ENANCIB